Sobre perfeição, tradução e o fim deste blogue
✎ Janaina de Aquino
Alguns entre os leitores talvez tenham percebido que me inspiro em propagandas de design para refletir sobre tradução. Talvez porque o caráter criativo e autônomo da profissão sejam similares.
Pois bem.
Acabei de assistir a um vídeo sobre que trata basicamente sobre terminar algo, ainda que não seja perfeito.
O autor pede que o expectador repita o mantra "Finished, not Perfect" (e vou traduzir aqui rapidamente como "Pronto, não Perfeito"). Com isso, ele explica que é mais importante terminar uma coisa do que ter outra que é perfeita, mas não está pronta. É o que nos ensina Jung quando diz que "a questão não é atingir a perfeição , mas sim a totalidade".
Neste momento, três pensamentos vieram, em cadeia, à minha cabeça.
O primeiro pensamento foi o caso da Catedral da Sagrada Família de Barcelona, concebida por Gaudí, artista catalão, e em construção desde 1883 (leia a interessante história aqui). O monumento atrai milhares de visitantes pela robustez e riqueza em detalhes (artifício que Gaudí usou para que nunca desistissem da obra), porém o fato de nunca ter sido concluída é o maior crédito pela sua fama.
O segundo pensamento foi o deste blogue criado em 2008, mas que ganhou fôlego total a partir de 2011. Desde então, no decorrer dos últimos 6 anos, tenho me dedicado quase que diariamente a garimpar notícias na internet que pudessem ser de interesse da comunidade de tradução, interpretação, audiovisual e, mais recentemente, LIBRAS e línguas indígenas. Ultimamente, porém, tem sido dolorido perceber que já não consigo elaborar conteúdo com o mesmo ritmo, chegando quase a zero. Decretei, assim, seu fim devido à minha inabilidade de cuidar do Ecos com o mesmo esmero e atenção de tempos atrás.
O terceiro remonta aos meus primeiros anos como estagiária de tradução, época em que meus chefes, nos diferentes locais onde trabalhei, embora muito satisfeitos com o resultado do meu trabalho, diziam que eu deveria parar de tentar encontrar uma tradução perfeita, pois queriam uma tradução pronta. Quantos leitores não hesitaram antes de entregar uma tradução porque achavam um problema aqui ou ali? Paulo Coelho, escritor de grande destaque na literatura internacional, defende que não devemos enlouquecer em busca da perfeição: alguns defeitos são importantes.
É justamente do que trata o vídeo (assista aqui): pesa muito mais se conseguimos começar e terminar algo que nos propomos a fazer, mesmo que esteja aquém do "perfeito". Dedicar-se para aperfeiçoar algo é obviamente extremamente revelante, mas isto não deveria se limitar jamais a empreender todos os esforços e recursos disponíveis em uma única tarefa (que corre o risco de nunca ver um fim).
Podemos (e devemos) melhorar pouco a pouco, em um projeto atrás do outro. Isto é válido especialmente se consideramos que, em um, dois, dez anos provavelmente vamos odiar uma tradução que, à época de sua feitura, tachamos como "impecável". Então por que se desgastar buscando a perfeição agora se sabemos que vamos nos superar, quem sabe, em poucos dias? Ora, já não dizia Dalí que o preço da perfeição é a prática constante?
Com isto mente, decidi que mesmo não sendo capaz de conduzir o Ecos com o mesmo vigor de outrora, prometo que não vou deixá-lo morrer. Não agora. Para fechar com as palavras de Zade Bretas, "a perfeição que me acompanhava estava cansada e resolveu parar pra descansar, mas acho que ela não me alcança mais. Estou correndo muito, estou me libertando".
É justamente do que trata o vídeo (assista aqui): pesa muito mais se conseguimos começar e terminar algo que nos propomos a fazer, mesmo que esteja aquém do "perfeito". Dedicar-se para aperfeiçoar algo é obviamente extremamente revelante, mas isto não deveria se limitar jamais a empreender todos os esforços e recursos disponíveis em uma única tarefa (que corre o risco de nunca ver um fim).
Podemos (e devemos) melhorar pouco a pouco, em um projeto atrás do outro. Isto é válido especialmente se consideramos que, em um, dois, dez anos provavelmente vamos odiar uma tradução que, à época de sua feitura, tachamos como "impecável". Então por que se desgastar buscando a perfeição agora se sabemos que vamos nos superar, quem sabe, em poucos dias? Ora, já não dizia Dalí que o preço da perfeição é a prática constante?
Com isto mente, decidi que mesmo não sendo capaz de conduzir o Ecos com o mesmo vigor de outrora, prometo que não vou deixá-lo morrer. Não agora. Para fechar com as palavras de Zade Bretas, "a perfeição que me acompanhava estava cansada e resolveu parar pra descansar, mas acho que ela não me alcança mais. Estou correndo muito, estou me libertando".
4 comentários
Oleeee....
Se há mais ecos positivos que negativos, para que se silenciar?
Enhorabuena!
Oleeee....
Se há mais ecos positivos que negativos, para que se silenciar?
Enhorabuena!
Olá Janaína,
Sou tradutora freelancer e seu blog tem sido um grande instrumento para mim.
Espero que você continue, e se concordar, caso haja algo em que eu possa contribuir, aguardo seu contato.
Abraços,
Fabiana
Oi!
Descobri seu Blog há pouco tempo, mas é tão bom! Espero que você conisga continuar. Se precisar de ajuda com conteúdo ou qualquer outra coisa, me avise.
Gabi
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