Por que a Tradução nos atrai tanto
Por Marlon Ribeiro
Pare para pensar nos livros que você leu nos útlimos 10 anos (não tenho um motivo especial para escolher esse número; é somente o primeiro que veio à cabeça). Pare para pensar nos filmes que você assistiu nos últimos 10 anos. Para para pensar nos aparelhos eletrônicos que você adquiriu nos últimos 10 anos.
Depois de ter refletido sobre tudo isso, faça a si mesmo a seguinte pergunta: "todos os bons momentos proporcionados por tudo isso contam com a contribuição de algum tradutor?". Inetivalmente a resposta será, SIM.
A tradução não é Deus, mas é onipresente, pois ocorre em todos os lugares do mundo e do tempo. E por não ser Deus, a tradução carece de oniciência e onipotência - quem dera fosse um ofício divino o do tradutor! talvez fosse mais reconhecido... Dá para perceber como não vivemos sem traduções? Até mesmo você age como um tradutor, quando transforma a profusão de pensamentos que vem à sua mente na tessitura de palavras escritas sobre a face branca de um papel - ou sobre a tela plana de algum aparelho eletrônico.
Quando penso nas vidas que já foram salvas com o advento de novas técnicas cirúrgicas, o uso de novos medicamentos, a implementação de novos aparelhos de resgate, etc, sinto-me não mais um tradutor (e nem muito menos um super-herói ou coisa do tipo), mas o mais humilde e inútil dos servos. Vejo que o simples ato tradutório tem feito um bem gigantesco ao planeta, ainda que discretamente. Pode até continuar em sigilo que muitos trabalham arduamente neste mundo tradutório, mas o que não pode persistir como um segredo é que sua vida é permeada pelas mãos de algum tradutor.
Antes de repetir a triste adágio "tradutore, tradittore" (como não sei italiano, me perdoe se estiver errado), leve em consideração o que estes "traidores" já fizeram, mesmo que indiretamente, pela humanidade."
As “Expressões Problemáticas”
Desde quando comecei a traduzir (na época do colégio ainda...), percebi que algumas palavras, e por vezes, frases inteiras ficavam sem sentido ao traduzir para o português. Eu tentava arrumar, mas nem sempre conseguia. Certas palavras quando usadas sozinhas possuem um sentido, mas quando usadas em conjunto com outros, ganham uma nova significação.
Por exemplo, se digo que “João vestiu o paletó novo”, alguém pode me perguntar para onde ele estava indo, ou quando comprou esse paletó, ou se era bonito, etcetera e tal. Mas afirmo que, “João vestiu o paletó de madeira”, com certeza ele não foi a uma festa a fantasia, mas “partiu dessa pra melhor”, “se foi”. Estas são apenas algumas das milhares de expressões idiomáticas existentes em português. É preciso conhecê-las previamente para não gerar traduções estranhas ou sem sentido algum.
Se ouço em língua inglesa que, Johny kicked the ball, entendo que um tal de Johny chutou a bola, não sei por que, não sei pra onde, não sei quando, mas ele de fato chutou a bola. Entretanto, se alguém me diz que, Johny kicked the bucket, não significa que ele estava zangado e de repente chutou o balde num acesso de raiva, ou mesmo por brincadeira. Esse Johny não está mais entre nós porque he passed away, he’s gone, ou seja, “Johny bateu as botas” (meus pêsames...).
E alguém afirma que, Ted hit the ball. Ou seja, o dito cujo pegou um bastão a bateu na bola, que voou para longe ou só rolou um pouquinho (depende da força que esse tal de Ted exerceu contra a ela). Mas, se Ted hit the bottle, não posso imaginar Ted despedaçando um garrafa ou laçando-a para longe com uma pancada. Na verdade, ele ficou bem alterado, bêbado da silva, afinal, “Ted encheu a cara” (e não foi com água não viu! foi com muito álcool mesmo!).
Uma certa Helen foi se ajoelhar e para isso, she bent her knees. Isto é, ela flexionou os joelhos, encurvou as pernas um pouco. Mas depois disso Helen foi pra casa de uma amiga e, she bent the elbow. Não quero dizer que ela dobrou o braço, fez um ângulo de noventa graus, ou menos, com um dos seus membros superiores. Na verdade, nossa Helen ingeriu bebidas alcoólicas até ficar um tanto animadinha (posso até dizer que por causa disso, she hit the sofá (ou qualquer outra mobília ou parte da casa).
Expressões idiomáticas são de fato uma graça. Traduzi-las é tanto divertido quanto complicado. E como se não bastasse trabalhar com estas expressões, ainda preciso me atentar para o registro, o nível de fala na qual são apresentadas (literário, formal, informal ou gíria). Por isso to kick the bucket não é simplesmente “morrer”, mas sim “bater as botas”; da mesma forma to hit the bottle não significa apenas “beber até ficar bêbado”, mas sim “encher a cara”. Na verdade, podemos chamar isto de “expressões PROBLEmáticas”.
5 comentários
Marlon, tenho que concordar com vc. Quando penso em todos os meios em que os tradutores trabalham e todas as maneiras em que possibilitam a comunicação, mesmo que não reconhecidos por tais feitos, sinto me feliz em estar me tornando isso e de alguma forma participando disso.
realmente, expressões idiomáticas é amazing e importante para estabelecer a comunicação entre o leitor e o texto. não faz sentido ver traduções ao pé da letra mas é essencial mostrar que temos um correspondente, ainda que com sujeitos, objetos e ações diferentes para expressar um mesmos sentimentos. é o que acontece com chovendo canivetes no português mas cães e gatos no inglês; no mesmo modo, acontece do brasil se comer um determinado tipo de peixe na época de páscoa mas outro tipo na itália, ou mesmo carneiro, e assim por diante, tratando-se da cultura dos países em questão.
muito bom post, marlon.
adoro sua linguagem.
cordialmente,
jana.
Excelente post. Acho ainda mais fascinante que tenho encontrado cada vez mais pessoas fascinadas por serem tradutores. Inclusive nós! Em qualquer profissão o que nos motiva é a mesma coisa: paixão.
Excelente contéudo,adorei o site. Estou trabalhando agora em uma escola de inglês http://www.rodrigofaria.com/ e comecei me interessar pelo trabalho de tradutora.
Atenciosamente,
Renata
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