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Legendas em inglês para países de língua inglesa.

✎ Por Janaina de Aquino

Essa postagem foi inspirada na minha recente aventura pela corda-bamba[1] (RIDD, 1996) da legendagem, que resultou em muita curiosidade por essa parte da tradução até então inexplorada por mim. Assisti a um ou dois seminários sobre o assunto em toda a minha vida acadêmica e, por isso, não posso falar muito sobre isso, um terreno tão novo quanto desconhecido e complexo.

As considerações abaixo são apenas um esboço de um fato curioso que me deparei e, como considero uma fonte viva de informações, embora não de todo confiável, reproduzo a discussão dos participantes em relação à legendagem em inglês de filmes de língua inglesa em um fórum virtual. 

No Brasil, como estudantes e falantes do inglês como segunda língua (ISL), alguns de nós somos habituados a colocar legendas em inglês em filmes em inglês por razões óbvias. No entanto, quando este procedimento ocorre em países falantes de inglês é um tanto curioso. Ou nem tanto. Os membros do fórum alegaram que a necessidade de legenda é resultante do sotaque carregado dos atores. Lembrando que os filmes brasileiros exibidos em Portugal precisam de legendas e vice-versa, começa-se a se perceber que embora muito semelhantes, há determinadas formas de falar e peculiaridades do idioma que podem soar estranhas para um brasileiro ou português. Por exemplo, há alguns meses quando conheci, por acaso, as canções do Tiago Bettencourt, um músico português, não entendi alguns trechos da sua música “O jogo”, disponível abaixo:



Isso não dificultou, contudo, a compreensão geral da canção. No entanto, já ouvi alguns pedaços de diálogo de falantes de português de outros países e não entendi absolutamente nada. Mas isso é assunto para outra postagem.



A discussão que intitula essa postagem surgiu após navegar pela internet em busca de países onde se usam legendas, quando um fórum discutindo a questão de se legendar filmes em inglês para países que falam esse idioma. O tópico, iniciado por ReinierNL, atraiu uma série de membros, que discutiu suas mais variadas experiências com a presença ou ausência de legendagem, discutidas nos próximos parágrafos. 

Um dos casos expostos é de uma série de TV holandesa que teve que ser legendada porque o sotaque dos atores era tão forte que a maioria dos telespectadores holandeses teriam dificuldades em entender as falas. “Pela mesma razão”, diz ReinierNL, “os filmes dos Países Baixos são legendados em holandês quando mostrados na televisão flamenga (por exemplo, Baantjer) e vice-versa (por exemplo, “Jambers”)”.

O membro do fórum, zZigzZag, argumenta que o filme britânico Trainspotting foi legendado nos Estados Unidos, enquanto que The Full Monty teria sido exibido sem legendas, apenas com o diálogo oral. Para zZigzZag , “as legendas são bastante comuns em entrevistas de televisão em que a pessoa não é um falante nativo de inglês”.

Outro membro, chamado frog_australienne, relata que, até onde se lembra, Trainspotting não foi legendado na Austrália, no entanto, não conseguiu entender uma palavra sequer proferida nos primeiros 15 minutos do filme, e ainda continuou a sofrer para entender as falas no decorrer do filme. Portanto, na opinião do membro, o filme deveria ter sido legendado.
Já de acordo com VinnyD, Trainspotting foi legendado nos Estados Unidos, mas The Full Monty não, os quais também não causaram dificuldades em termos de compreensão. Por outro lado, o filme jamaicano The Harder They Come ou Balada Sangrenta (no Brasil), foi legendado nos Estados Unidos, e aparentemente em outros países de língua inglesa. Segundo o autor, a opção por legendagem pode ter sido devido ao fato de que o inglês jamaicano é considerado um dialeto do inglês por alguns e um outro idioma por outros.

O membro bjd  afirma que, se não estiver enganado, assistiu Balada Sangrenta no Canadá sem legendas e que não teve dificuldade em entender o inglês dos atores do filme. Todavia, no filme “Snatch – Sem limites”, bjd alega que não entende as falas do ator Brad Pitt e que mesmo os outros atores não conseguem entendê-lo. De acordo com, micolett, outro membro do fórum, não era possível entender o que oPitt falava nem na versão francesa do filme, por isso, sem o auxílio das legendas, teria sido mais difícil ainda.

Count_Zero brinca que “se você [ReinierNL] achou difícil de entender Trainspotting, então espere para ver The Acid House, também baseado em um livro de Irvine Welsh. Segundo o membro do fórum, ele entendeu todas as falas de Trainspotting, mas precisou de legendas para assistir The Acid House, um filme australiano. Uma amostra (tensa) pode ser vista abaixo.









paris55 observa que a maioria dos DVDs hoje vêm com a opção de legendas para deficientes auditivos. Em relação aos sotaques, o membro ressalta que sente dificuldade em entendê-los quando há cenas barulhentas ou os atores falam muito rápido.

O australiano Mad Max precisou ser legendado nos Estados Unidos, de acordo com Louie_LI.

Por fim, silvanocat diz não ter certeza em qual dos programas exatamente isso ocorria, mas ou Survivor All Stars ou The Amazing Race (reality shows norte-americanos), invariavelmente exibiam legendas nas falas do participante Boston Rob. Além disso, silvanocat assegura já ter visto outros filmes e programas de TV nos Estados Unidos com legendas para os sotaques regionais.





O caso polaco

Um caso curioso é contado por red_red_robyn, que relata que quando morou na Polônia assistiu um filme norte-americano dublado em polonês. 

O problema é que todas as falas eram dubladas por um único homem, que não fazia distinção entre os tipos de personagens que interpretava, quer fossem homem, mulher, jovem, velho, quer estivessem com raiva, triste ou feliz, entre outros. O membro se pergunta se isso é normal ou se foi um caso excepcional de um filme extremamente mal dublado. Ainda há dúvidas? Não se precipte. Há dúvidas, sim. Em resposta, AndrewSmith explica que esse tipo de dublagem é muito comum na Europa Central e Oriental. A razão é que os países dessas regiões não conseguem custear serviços apropriados de dublagem para, por exemplo, exibir vozes diferentes para cada ator. Segundo AndrewSmith, tal prática era adotada nos tempos comunistas e, como as pessoas desses países se acostumou a ela, não há nenhuma pressão por mudança. Outro membro, chamado alifbaa, corrobora AndrewSmith e afirma que muitos países, Polônia e Eslovênia (dois dos quais ele tem certeza), usam uma só voz para todas as dublagens, em segundo plano, como nos documentários norte-americanos. “TERRÍVEL”, exclama o autor mediante essa situação, que ouviu a série de TV “Friends” a uma só voz, eslovena, do sexo masculino. Em relação às legendas em inglês, alifbaa relata que viu Trainspotting no cinema, sem legendas. Mas, argumenta que praticamente todos os DVDs hoje já disponibilizam esse recurso e, quando foi rever o filme, dessa vez com legendas, percebeu que, na verdade, não tinha entendido quase nada do que pensara. Agora, o autor assiste tudo com legendas e admite gostar delas.

ReinierNL conta a AndrewSmith e alifbaa que a dublagem polaca é famosa e observa que “o homem [responsável pela dublagem] deve ter feito uma fortuna naqueles tempos comunista ou morreu cedo por excesso de trabalho.

Beni, último participante a comentar no fórum, pergunta a alifbaa se ele tem certeza que ouviu uma dublagem em esloveno, porque morou a vida toda na Eslovênia e nunca ouviu falar de filmes ou séries dublados no idioma. Segundo o membro, apenas desenhos animados são dublados, e contam com diversos atores [vozes] para isso e, além disso, os filmes exibidos no país são rigorosamente legendados. “Tem certeza de que você consegue reconhecer esloveno entre as línguas eslavas?”, pergunta.







[1] RIDD, Mark David. Legendagem: corda bamba entre o oral e o escrito. In: MAGALHÃES, Isabel. As múltiplas faces da linguagem. Brasília: UnB, 1996, p. 475-482.

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