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Carta-resposta ABRATES: por que se filiar?


Disclaimer: O texto abaixo é de total responsabilidade do seu autor e se empenha em responder o artigo Orientações preciosas para o Tradutor e o Intérprete iniciante. O texto original do texto ao que a carta abaixo se refere, publicado neste blogue, foi editado, com conhecimento do autor, após duras e fundamentadas críticas de leitores deste blogue. Com esta carta-resposta, o Ecos da Tradução considera ter cedido democraticamente espaço para ambas as partes e, portanto, encerrada sua participação nesta discussão.

Por Ricardo Souza

No dia 1 de junho deste ano, a ABRATES (Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes) foi avisada por vários associados e colaboradores sobre a publicação de um artigo detrator sobre a ABRATES neste blogue, intitulado “Orientações preciosas para o Tradutor e o Intérprete iniciante”, de autoria de Roberto Barreto de Carvalho. Não foi surpresa. Há alguns meses, a ABRATES decidiu rescindir sua parceria com uma empresa daquele autor, um curso de tradução. Desde então, o dito autor, que até aquele momento fora um defensor aguerrido e constante da associação (provavelmente por causa do valor que o nome ABRATES agregava à sua marca), passou a atacar a associação em toda oportunidade possível, chegando a fazer insinuações sobre a honestidade de seus diretores.

Tendo em vista a constância dos ataques recebidos, a ABRATES solicitará esclarecimentos do autor do referido texto em momento e foro oportunos. Por enquanto e como medida imediata, a associação vem, então, a público para dar os esclarecimentos que a comunidade tradutora merece, baseando-se no próprio artigo mencionado.

Antes de iniciar, gostaria de agradecer à titular do blogue Ecos da Tradução, Janaina de Aquino, por sua sensibilidade à questão e por ter-nos franqueado o espaço necessário para o esclarecimento do assunto.

Logo no início, o texto detrator faz uma afirmação das mais equivocadas que poderiam ser feitas em qualquer círculo tradutório:

Ser associado a sindicatos ou outras associações não é algo de suma importância

Existem associações de tradutores e intérpretes em quase todos os países do mundo onde essas atividades são exercidas e seus papéis são altamente valorizados, como o de qualquer associação de profissionais. Poderíamos escrever linhas e linhas sobre o assunto, mas nossa colega Jayne Fox já o fez muito bem, de forma bem concisa, em um texto intitulado “Why join a professional association for translators and interpreters?” (https://goo.gl/WHckOA). O texto está em inglês, mas se você não tem muita intimidade com a língua, não tem problema, basta pedir a um colega que traduza para você. Aliás, essa é uma excelente oportunidade de “networking”! Como vocês verão no texto da Jayne, não são poucos os tradutores que, inclusive, se filiam a mais de uma associação, conforme os idiomas que ofereçam aos seus clientes. Ser membro de uma associação é uma forma não apenas de obter vantagens em serviços que, diretamente ou indiretamente, ajudam os tradutores a se concentrarem em oferecer um bom serviço, mas de mostrar aos seus clientes o seu comprometimento com padrões profissionais de tradução.


  • Um artigo interessante, em português, sobre a importância das entidades de classe pode ser encontrado no site da Associação de Arquitetos, Agrônomos e Engenheiros de Foz do Iguaçu ­ AAAEFI, em https://goo.gl/zmP9cp

Neste ponto, cabe um esclarecimento. Existe uma diferença de papel e enquadramento jurídico entre sindicatos e associações. Sindicatos são previstos na Constituição Brasileira e representam uma categoria profissional perante o Estado. Associações estão previstas no Código Civil e defendem os interesses particulares de seus associados. Por exemplo, se os tradutores precisarem de um interlocutor com o governo federal sobre qualquer assunto que afete a categoria profissional como um todo (por exemplo, na reivindicação da regulamentação da profissão), esse interlocutor será o Sindicato Nacional dos Tradutores ­ SINTRA. Por outro lado, se alguns tradutores perceberem que algum tipo de serviço torna sua vida profissional ou pessoal mais tranquila, recorrerão à sua associação, por exemplo a ABRATES, para que negocie condições melhores na oferta desses serviços aos seus associados.



Obviamente que, em alguns momentos, o SINTRA pode tomar iniciativas muito parecidas com a da ABRATES, assim como a ABRATES pode iniciar discussões que normalmente seriam levadas no âmbito do SINTRA. Contudo, como são entidades que defendem interesses de profissionais de uma mesma classe, a conversa entre elas é constante e eu mesmo, em uma oportunidade, mesmo sendo diretor da ABRATES, representei o SINTRA em um evento quando o representante do sindicato teve um contratempo de última hora. Foi uma satisfação fazê-lo.

Voltando ao referido texto detrator, outro trecho que deve ser lido com cuidado, devido às platitudes que veicula, é o que fala sobre os tais “os cinco principais pontos de foco” para alguém se tornar um tradutor ou intérprete, especialmente alguns.

Se matricular em um bom curso de Formação de Tradução e/ou Interpretação.

Ao citar o que considera “os três cursos mais conceituados”, o artigo detrator confunde cursos livres de tradução com cursos universitários de tradução e, ainda por cima, deixa de fora cursos como o do professor Daniel Brilhante de Brito, que já forma tradutores há quase cinco décadas. Conveniente. E ainda sugere que os alunos procurem fazer amizade com professores ao longo do curso não para trocar conhecimentos e se tornarem profissionais melhores, mas pelo interesse de dar “primeiros passos” no mercado de trabalho. Eu, como professor, quando noto esse tipo de aproximação interesseira, procuro redirecionar a relação ou me afastar, pelo bem do caráter de todos.

Especificamente sobre cursos livres e cursos universitários de tradução, sugiro a leitura da norma de qualidade ISO 17100, a chamada “norma da tradução”, bastante recente (2015) e que vem sendo adotada em ritmo acelerado por muitos dos clientes de traduções. Nela está desenhado claramente o que uma empresa certificada pela ISO deve exigir de seus tradutores e a formação em um curso de tradução de nível superior se destaca. Sobre o assunto, sugiro a leitura do artigo “A ISO 17100, essa ilustre desconhecida”, que publiquei no número 8 da Revista Metáfrase, da ABRATES. Ela pode ser baixada gratuitamente em https://goo.gl/uRGCsP

A esta altura, o artigo detrator perpetra platitudes, como ao mostrar claramente que não sabe o que é, nem para que serve uma memória de tradução (”Memória de Tradução não é mais um diferencial”), ou quando aconselha tradutores a darem um toque “artístico” aos seus trabalhos para se tornarem “raros” (??). Contudo, o mais surpreendente no artigo detrator é quando diz e transcrevo:

“Cuidado com quem fala mal dos outros: você não será exceção”. Procure falar bem das pessoas, e quando a crítica for absolutamente inevitável, critique o fato e não a pessoa, e, se possível, procure fechar a crítica com algo positivo no final.”

São um aviso e uma recomendação que o próprio artigo detrator não segue, pois o que vem em seguida é uma série de ataques sem sentido e virulentos à ABRATES, motivados pelo evento mencionado na abertura deste texto. Como já disse, esses ataques receberão tratamento em foro apropriado, mas cabem alguns esclarecimentos mais urgentes para todos os que leram o texto detrator, sejam associados da ABRATES ou não, principalmente quem está iniciando agora na vida tradutória e que poderá ter sua vida profissional prejudicada por uma diatribe tão mesquinha.

A ABRATES está permanentemente vendendo produtos para sua categoria.

A ABRATES nunca vendeu produtos para ninguém, nem pode fazê-lo, por força de lei. O que a ABRATES faz é promover o relacionamento entre seus associados e empresas que patrocinem iniciativas em prol dos próprios associados (como congressos, cursos livres, cursos universitários, ferramentas computadorizadas de auxílio ao tradutor, serviços de viagens e hotelaria, serviços de câmbio, etc.). Basta uma visita ao link que coloquei mais acima para constatar isso. Assim, o artigo detrator mente.

Os palestrantes da ABRATES têm de pagar para ministrar suas palestras.

Ninguém que tenha apresentado palestra em evento nenhum da ABRATES jamais pagou para fazê-lo, ao contrário. Em muitas ocasiões, a ABRATES abre mão de recebimentos ou mesmo paga palestrantes para que se apresentem. Funciona assim: se você quer participar de um congresso da ABRATES, pode apresentar uma proposta de palestra que será analisada e, se aprovada, você receberá um bom desconto (de até 50% do tíquete total) em sua inscrição; se você for convidado pelas ABRATES para se apresentar no congresso, você não pagará a taxa de inscrição e, em algumas situações, algumas despesas de deslocamento poderão ser cobertas; se você é um “keynote speaker”, ou seja, alguém que agregará um valor especial ao congresso, normalmente você é um palestrante profissional e seus honorários serão negociados e pagos pela ABRATES. Quem paga para aparecer em eventos da ABRATES são expositores de produtos voltados para tradutores. Mais uma vez, o artigo detrator mente.

O valor do ingresso para o congresso anual, chegando a R$ 1.140,00 e podendo ser financiado em até um ano e meio(!), mostra a total falta de compromisso da atual diretoria da Abrates para com tradutores/intérpretes que são mais desprovidos de recursos, sem dúvida nenhuma elitizando o congresso e demonstrando total falta de sensibilidade com a categoria e com a situação do país.

A ABRATES não financia nada. Qualquer financiamento do preço da inscrição é feito pelo meio de pagamento escolhido pelo participante e fica a critério do participante contratá-lo. E sobre a “elitização do congresso” da associação e a “falta de sensibilidade com a categoria”, o investimento feito por um tradutor em um congresso da ABRATES é um dos menores do mundo, considerando-se o nível do evento e do retorno. Por exemplo, o ingresso para o congresso da ATA (American Translators Association) de 2017 custou até USD 1.210,00, sem direito a meia entrada, e contou com a presença significativa de tradutores brasileiros e de outros países. Em comparação, o ingresso do evento da ABRATES, que também conta com público nacional e internacional, custa aproximadamente USD 305.00, sem queda de qualidade em comparação com o estadunidense, basta ver os depoimentos do David Rumsey, presidente da ATA em 2017, e do Jost Zetzsche, tradutor e autor que dispensa apresentações, neste vídeo sobre o 8º Congresso da ABRATES em 2017: https://vimeo.com/251632705

E sobre “elitizar o congresso”, o que o artigo detrator tenta expor como algo nefasto é, na verdade, o objetivo de toda a associação: contribuir para que o tradutor se destaque entre seus pares, seja pela educação continuada, seja pela interação sadia com clientes e outras partes interessadas na tradução. Congressos de associações profissionais não são elitizados, é a elite do mundo da tradução que entende seu significado e procura por eles. O melhor de tudo é que essa chamada elite está sempre sequiosa por conhecer tradutores iniciantes ou gente que está pensando em se tornar profissional da tradução. Uma boa parte dessa elite consiste em donos de empresas de tradução e tradutores que formam sua própria equipe de colaboradores. Motivo mais válido para participar de um evento assim, não conheço.

Boa parte do dinheiro arrecadado pela Abrates é gasto com viagens internacionais para eventos, que aumentam o capital intelectual e a rede de contatos dos dirigentes que estão viajando, mas que não favorecem em nada os associados.

Essa parte da tal “crítica” é especialmente caluniosa. Primeiro, porque a ABRATES, em sua administração 2016-2018, contou em sua vice-presidência com um de seus membros mais tradicionais, Renato Beninatto, que tem residência em três continentes, viajando constantemente a trabalho entre eles, pagando por tudo do próprio bolso e reservando parte do tempo dessas viagens para promover os interesses da ABRATES e seus associados no exterior. Segundo, porque é esperável e desejável que representantes de associações se visitem em eventos internacionais, para que sua voz seja ouvida nas discussões do rumo de nossa profissão. Mesmo assim, entre 2016-2018, apenas três eventos de associações (no Uruguai, nos Estados Unidos e em Portugal) receberam um representante da ABRATES, que permaneceu nesses países pelo período dos eventos e exclusivamente para participar de discussões do interesse da classe tradutora nesses eventos ou para analisar modelos de benefícios que pudessem ser reproduzidos no Brasil.

Aqui, uma coisa é curiosa: o artigo detrator passa todo o tempo tentando diminuir os benefícios de um congresso como o da ABRATES, mas afirma que a participação neles “aumenta o capital intelectual”. Com isso, concordamos! Venha participar dos próximos eventos da ABRATES e aumente o seu também (https://goo.gl/nnADME). Um bom capital intelectual, por exemplo, evita que alguém cometa paradoxos óbvios de raciocínio como este.

Somente semanas após a eleição se fica sabendo quem foi eleito o Presidente, e o anúncio é feito apenas no Congresso. Por que tanto tempo depois?

Bom, seria difícil anunciar o novo presidente antes da apuração da eleição, não é mesmo? E o anúncio é feito não no congresso, mas na Assembleia Geral dos associados, que é realizada geralmente no final do congresso, como manda o Estatuto da associação, da qual autor do artigo detrator sequer é membro.

(E neste ponto ficamos aguardando o tal “algo positivo no final da crítica” que o texto menciona. Não tem.)

Por fim, obviamente que há, no artigo detrator, uma pletora de inverdades, mas acreditamos que este texto trate daquilo que precisava ser esclarecido com mais urgência. O restante, como dissemos, receberá tratamento no momento e no foro apropriados. Deixamos, então, um convite para que você entre em contato conosco e conheça o trabalho que a ABRATES vem realizando em favor e em defesa dos seus associados não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Fiquem à vontade para falar conosco através de nossa página no Facebook (https://www.facebook.com/Abrates/) ou pelo nosso email (secretaria@abrates.com.br). Estamos à sua disposição.

Um fortíssimo abraço para todos!

Ricardo Souza
Tradutor

Diretor da Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes - ABRATES

2 comentários

Gio Lester disse...

Tenho muito a agradecer à ABRATES pelo serviço que presta, pelo carinho e cuidado que tem com seus membros, muito bem expressos pelo valor agregado que procura sempre trazer à afiliação.

Sou membro de várias associações profissionais e nenhuma delas oferece tanto a seus membros quanto a ABRATES.



Oliver Simões disse...

Nossa, acabou com esse detrator. Quem será esse imbecil? O artigo me deu um gostinho de quero mais e de fazer parte da Abrates.