Taxa de expansão de palavras e contração de textos
✎ Por Janaina de Aquino
Você já ouviu falar da expansão do universo?
Há quem diga que o universo está se expandindo. O Big Bang é uma das provas para esse fenômeno. Segundo a página online sobre o Atlas do Universo (disponível aqui), “o universo em que nós vivemos está expandindo. Nós sabemos isto porque nós vemos galáxias e grupos de galáxias se deslocando no universo. Esta expansão tem ocorrido desde que o universo foi formado há 15 bilhões de anos, durante um quente e denso evento conhecido como Big Bang”.
Essa questão é tema de discussão entre muitos estudiosos e serve de ponto de partida para um outro assunto, que é a expansão de palavras durante o fenômeno da tradução.
Você já deve ter percebido que ao traduzir de uma língua para outra, seu texto pode ficar “maior” ou “menor”. Em uma tradução do inglês para o português, por exemplo, para comunicar o mesmo significado, muitas vezes o número de palavras ou caracteres aumenta. Ao fazer o sentido inverso, isto é, ao traduzir do português para o inglês, esses números podem diminuir.
Quando seu texto “aumenta”, ocorre o que é chamado na tradução, ou pelo menos pelas empresas de tradução, de “taxa de expansão”, que significa a “proporção das palavras da língua-alvo dividida pela proporção das palavras da língua fonte e é apresentada por meio de uma porcentagem”. Mas se seu texto “diminuiu”, depois de traduzido, houve uma “contração”. Parece óbvio, mas você já tinha pensado tecnicamente sobre isso? Em caso afirmativo, pare de ler essa postagem agora mesmo. Não há nada que eu possa lhe acrescentar. Em caso “sim, eu já sabia, mas me conte mais” ou “não, nunca ouvi falar sobre isso”, vamos aprender um pouco mais sobre o tema.
A English Power, empresa sobre ensino de inglês, chama atenção para o fato de que, considerando, o serviço de tradução baseado nos valores cobrados por palavra da língua-alvo, a taxa de expansão pode ser menor do que a taxa apresentada na contagem das palavras da língua-fonte (demonstrando que houve contração). Portanto, o tradutor deve saber se cobrará a partir da língua-alvo ou da língua fonte tendo em vista qual opção será mais vantajosa em termos financeiros.
Se você não sabia disso, é bom ficar sabendo, principalmente se pretende fornecer seus serviços no exterior. E é justamente por isso que resolvi fazer uma postagem sobre o tema, porque eu mesma desconhecia, até pesquisar agências estrangeiras de tradução, algumas das quais pediam para informar quais eram meus valores praticados por palavra, por página (nossas laudas) e por taxa de expansão. Os dois primeiros itens eu sabia do que se tratava, mas "taxa de expansão", nunca ouvira falar. Foi o jeito pesquisar.
Encontrei que taxa de expansão de uma tradução do inglês para o italiano, por exemplo, é de 21%. Isto significa que haverá cerca de 21% de caracteres italianos a mais do que teria na versão espanhola do documento. Mas, atenção, essa porcentagem pode variar de acordo com o tipo de documento ou mesmo assunto. Parece que há, ainda, alguma outra variavel envolvida, pois, conforme veremos na tabela no fim do artigo, esse valor é de 15%.
O mesmo acontece com um texto alemão técnico, jurídico ou acadêmico, mediano e bem escrito que, traduzido para o inglês, expande 20%. Nesse caso, listas de peças ou FISPQs podem expandir em até 40%, enquanto a transcrição de textos de educação aumenta apenas 30%. A maioria das cartas e documentos pessoais não ultrapassa 10% depois de traduzidas.
Por outro lado, a empresa de tradução Omnialingua observa que embora o texto alemão traduzido para o inglês se expanda, textos em japonês traduzidos para inglês apresentam diferentes graus de contração (lembrando que o grau de contração está relacionado com o assunto/tipo de documento). Para se ter uma ideia, para determinar a contagem de palavras em inglês, divida o número de caracteres japoneses em 1,8.
Quanto maior a transliteração (caracteres katakana) em japonês, maior é a taxa de contração na versão inglesa. Por exemplo, a tecnologia relacionada a documentos japoneses traduzidos para o inglês (em especial nos campos das caixas de texto de avisos no computador) têm uma maior taxa de contração do que outros tipos de texto.
Quanto maior a transliteração (caracteres katakana) em japonês, maior é a taxa de contração na versão inglesa. Por exemplo, a tecnologia relacionada a documentos japoneses traduzidos para o inglês (em especial nos campos das caixas de texto de avisos no computador) têm uma maior taxa de contração do que outros tipos de texto.
Essa também é uma preocupação das empresas de localização de programas de computador, que precisam adaptar os textos para se ajustarem nos espaços limitados. Em outra postagem, discutimos melhor sobre o tema. É um barato! (Aliás, fiz uma prévia sobre o assunto aqui e aqui.)
Assim, outro dia, sem pensar tecnicamente sobre todo esse universo de expansão e contração, perguntava-me como traduziria a palavra “daily”. Algo simples e óbvio, você deve estar pensando mais uma vez. Mas vamos pensar melhor sobre isso.
Tudo começou quando eu estava tentando programar um lembrete (“reminder”) no meu celular, que está configurado no idioma inglês. E lá estava “daily”, que selecionei e esqueci sobre isso. Mas, por algum motivo, aquela palavra continuou na minha cabeça “daily, daily, daily...”, como a contar carneirinhos para dormir. Na verdade, eu estava pensando qual palavra seria mais adequada “diariamente”, “diário”, “todos os dias”...Em princípio, tratava-se de apenas uma escolha de tradução, tendo em vista as outras opções “weekly”, “monthly” e “yearly”. Caso escolhesse “diariamente”, teria que escolher “semanalmente”, “mensalmente” e “anualmente”, para manter a linearidade. Da mesma forma, a opção por “todos os dias” pediria “todas as semanas”, “todos os meses” e “todos os anos”. Ainda, assim não parecia fluido. Pensei em “todo dia”, “toda semana”, “todo mês”, “todo ano”...
De fato, não era fácil. Imagine tentar configurar o seu despertador e aparecer a opção “toda semana”...Não é legal, é? É quase como se não fosse português. É claro que está escrito em bom e claro português, diga-se de passagem, mas está no lugar errado e, por isso, não parece fluente. Fosse em uma situação em que lhe perguntassem “com que frequência você visita sua mãe?”, seria natural ouvir “toda semana”. Mas, em um despertador, não sei não... Dormi e não resolvi esse impasse.
De fato, não era fácil. Imagine tentar configurar o seu despertador e aparecer a opção “toda semana”...Não é legal, é? É quase como se não fosse português. É claro que está escrito em bom e claro português, diga-se de passagem, mas está no lugar errado e, por isso, não parece fluente. Fosse em uma situação em que lhe perguntassem “com que frequência você visita sua mãe?”, seria natural ouvir “toda semana”. Mas, em um despertador, não sei não... Dormi e não resolvi esse impasse.
No dia seguinte, ainda com essa questão na cabeça, comecei a pensar, “não se trata apenas de qual é a melhor opção. Temos que considerar que o número de caracteres tem que caber no espaço previamente delimitado”. Por exemplo, “weekly” é uma palavra menor do que “semanalmente”. Em termos de caracteres, a primeira tem 6 contra 12 da segunda, ou seja, o dobro. Ou seja, há uma expansão.
Esse também é o tipo de preocupação do designer gráficos. “Sem dúvida”, Omnialingua aponta, “a expansão e até mesmo a contração do texto são aspectos cruciais para o designer gráfico que desenvolve o layout do documento, que acabará por passar pelo processo de localização. Para evitar aumento nos custos de formatação durante a etapa de localização, devido aos esforços de para ajustar uma versão muito grande em um espaço muito pequeno, os documentos devem ser formatados com espaço em branco (ou vazios) o suficiente para acomodar o texto expandido”.
Deve-se notar ainda que, por um lado, a expansão pode resultar em um documento abarrotado, difícil de ler, enquanto, por outro lado, a contração pode deixar o documento traduzido (ou localizado) com muitos espaços em branco, bem além do considerado graficamente agradável.
Embora inconsciente, a minha preocupação, portanto, não era em vão. Apenas desconhecia esses detalhes técnicos que espero ter esclarecido um pouco para outros novatos como eu no assunto. Futuramente, podemos aprofundar mais e descobrir novas coisas a respeito. Por enquanto, segue uma tabela elaborada pela Omnialingua e que tomei a liberdade de traduzir para exemplificar a taxa de expansão ou contração do texto de acordo com alguns pares de idiomas.
Língua-fonte
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Língua-alvo
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Expansão do texto
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Contração do texto
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Comentários
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Português (Europeu)
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Inglês
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-
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15%
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Depende do tipo de texto.
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Inglês
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Português (Europeu)
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30%
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-
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Depende do tipo de texto.
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Inglês
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Português (Brasil)
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20-30%
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Raramente ocorre.
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A expansão do texto varia muito com o assunto e estilo de cada tradutor. Ao lidar com gráficos e menus de programas de computador, é importante calcular uma expansão do texto de, pelo menos, 20% para evitar a necessidade de abreviaturas ilegíveis. A expansão pode não ser muito relevante quando se trata de textos padrões. Por exemplo, um parágrafo em inglês comparado com traduções oficiais da ONU expande em média 110%.
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Português (Brasil)
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Inglês
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Mínima.
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5-10%
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Normalmente, percebemos uma contração de 5 a 10%, em média. Também varia muito com o assunto e a qualidade do texto-fonte. Ao contrário do consenso geral, os textos técnicos brasileiros às vezes são muito clínicos, o que pode resultar na expansão do texto traduzido para o inglês de forma que fique mais fluente.
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Inglês
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Árabe
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25%
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-
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Depende do assunto.
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Árabe
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Inglês
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-
|
25%
|
Depende do assunto.
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Inglês
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Finlandês
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-
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20-30%
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Devido à falta de pronomes e artigos: no entanto, o comprimento da palavra (número de charactres) aumentará cerca de 10 a 15%.
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Finlandês
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Inglês
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30-40%
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-
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Devido aos artigos e pronomes (número de caracteres)
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Inglês
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Dinamarquês
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-
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10-15%
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Devido às palavras compostas.
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Dinamarquês
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Inglês
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10-15%
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-
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-
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Inglês
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Sueco
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-
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10%
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Devido às palavras compostas.
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Sueco
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Inglês
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10%
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-
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-
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Inglês
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Japonês
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Varia dramaticamente de 20-60%
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Varia dependendo do assunto
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Contar por letra em vez de contar por palavra. Quanto mais transliteração for usada, maior fica o texto.
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Japonês
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Inglês
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-
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10-55%
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-
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Inglês
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Norueguês
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-
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5-10%
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Palavras compostas, menos adjetivos
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Norueguês
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Inglês
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5-10%
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-
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-
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Inglês
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Grego
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5-10%
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-
|
-
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Grego
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Inglês
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10-20%
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10%
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Textos em geral expandem / Textos técnicos contraem
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Inglês
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Coreano
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-
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10-15%
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Foram analisados cerca de 10 projetos para chegar a esse resultado.
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Coreano
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Inglês
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15-20%
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-
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Foram analisados cerca de 15 projetos para chegar a esse resultado. A maioria dos projetos foi expandida, mas alguns não.
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Chinês
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Inglês
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Varia
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-
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Depende do assunto.
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Inglês
|
Chinês
|
-
|
Varia
|
Depende do assunto.
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Francês
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Inglês
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-
|
10-15%
|
-
|
Inglês
|
Francês
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15-20%
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-
|
-
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Alemão
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Inglês
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5-40%
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-
|
Depende do assunto.
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Inglês
|
Alemão
|
5-20%
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-
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-
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Espanhol
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Inglês
|
-
|
15%
|
-
|
Inglês
|
Espanhol
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25%
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-
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-
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Espanhol (México)
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Inglês
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-
|
15%
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-
|
Inglês
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Espanhol (México)
|
20%
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-
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-
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Espanhol (Estados Unidos)
|
Inglês
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-
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15%
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-
|
Inglês
|
Espanhol (Estados Unidos)
|
20%
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-
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-
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Espanhol (Espanha)
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Inglês
|
-
|
15%
|
-
|
Inglês
|
Espanhol (Espanha)
|
20%
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-
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-
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Inglês
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Italiano
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-
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15%
|
A diferença pode ser menor em textos técnicos.
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Italiano
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Inglês
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-
|
15%
|
A diferença pode ser menor em textos técnicos.
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3 comentários
Muito interessante isso! Já sabia que a tradução poderia acrescentar ou diminuir palavras, mas não o jeito técnico da coisa. Bem útil mesmo! Parábens pelo post. Bjos
Acredito que no mundo moderno as palavras menores serão escolhidas em detrimento das maiores. Parece que idiomas como o Inglês tendem a vencer outros como Portuguê; afinal, é mais fácil dizer "email" do que "correio eletrônico".
Fiz alguns testes com os idiomas Finlandês, Inglês, e Português. Percebi que a autora deste blog fala de contração e expansão usando contagem de palavras. No entanto, para que um texto num idioma fique menor do que outros, temos que levar em consideração a contagem de caracteres, nos quais o espaço entre as palavras também importa.
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