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Crônica de Tradutor

Por Raquel Barroso

Não me recordo dia e nem hora, mas aconteceu! O fato é que, ao percorrerem rapidamente a lâmina de minha bandeja durante um almoço em uma das lanchonetes da rede McDonald’s, meus olhos repentinamente se depararam com as letras T- R – A – D - U! Nessa ordem! Não era possível!

Como os momentos de glória dos tradutores são raros e tão rápidos quanto um piscar de olhos, a primeira sensação que tive foi a de estar vendo coisas.Talvez fosse o cansaço, talvez fosse minha paranóia com os estudos tradutórios, afinal, não é todo dia que a arte da tradução pode compartilhar o mesmo espaço que um sanduíche da maior rede de fast food do mundo! Mas não! Era verdade! Aquelas letras estavam ali, espremidinhas entre o copo de coca-cola, eu disse COCA - COLA e as batatas, ou melhor, as melhores batatas fritas do planeta! Mergulhei na direção daquele oásis e valha – me São Jerônimo! TRADUTONE - ‘A invenção que derruba todas as barreiras de idioma!’

Então, uma mistura de sensações! Se, por um lado a idéia de ver a tradução sendo abordada de maneira tão, como posso dizer... pública me proporcionou orgulho e grande satisfação, por outro, a ilusória idéia de entender tudo o que quiser e ser entendido por tudo e todos por intermédio daquele ‘peixinho’ - que regula até tons de voz - me provocou repulsa, lançando - me de volta ao deserto da tradução. A decepção ficou estampada em meu rosto ao perceber que aquele oásis não passara de uma miragem que se esvaía a medida que meus olhos decifravam as promessas tentadoras do TRADUTONE e que eu não mataria minha sede! Não desta vez! Não ainda!

A propaganda deixara de ser a alma do negócio já que a idéia genialmente utópica proposta para que o amor deixasse de ser a única língua universal fora destruída pelos mesmos argumentos apresentados para comprovar que aquela ‘invenção deveria ser inventada’, o que pode ser percebido quando aquele papelzinho, que eu acabo de perder o respeito em chamar de ‘lâmina de bandeja’, diz ‘todas as invenções aqui representadas são fictícias e não podem ser reproduzidas de maneira real’.


Ora! Mecanismos de tradução automática são tão reais que chovem no mercado! Basta entrar em uma livraria e lá estão as mais variadas espécies destes peixinhos fictícios nadando nas prateleiras! Em cardumes! Cada um com sua promessa mais tentadora! Sorrindo para os colecionadores de dicionários que se aventuram no oceano da tradução. Funcionam? Sim, mas é claro que funcionam! Para aqueles que vêem na tradução um mar de possibilidades e, por isso, fazem uso cauteloso das informações que lhes são fornecidas e têm consciência de que, como qualquer outra máquina, possuem limitações e não apresentam e, nunca apresentarão, a capacidade de lapidação que horas em cima de um texto podem proporcionar aos leitores dos textos traduzidos! Por isso, nunca serão os grandes perturbadores do sono dos tradutores. Pelo contrário, são grandes aliados.

Talvez a tradução deva mesmo permanecer no sadio deserto dos tradutores artistas! Graças a São Jerônimo aquele papelzinho foi lançado na lixeira mais próxima, mas fica a pergunta aos tradutores que têm o sonho de que o sertão ainda se consolide como mar: quem matará nossa sede?



2 comentários

Jana Ross disse...

aconteceu quase a mesma coisa comigo. fui toda feliz mostrar ao meu namorado, mas quando vi as funções do peixe fiquei estupefata. de fato, o que disseminam sobre a tradução e suas [aparente] facilidades ainda está em vigor no mundo. embora muitos joguem fora os papéis do mac, eu ainda guardo alguns e acabei guardando esse pra levar pra faculdade e abrir alguma discussão. entrar em ação.

Filipe disse...

depois de ler esse post fiquei me perguntando 'Será que um dia vou ver um elefante bibliotecário?' Bom... faz tempo q eu não como no Mc e não pretendo comer tão cedo, então me avisem! hehehe

Parabéns para Raquel pelo texto! Muito bom!

Bjs