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Matemática da Tradução: O valor de um Tradutor

Era uma vez um computador quebrado. O dono chamou um, dois, três, quatro, inúmeros técnicos, mas ninguém conseguia consertá-lo. Até que um dia, embora não tivesse mais esperanças, o dono chamou um último técnico que, após apertar um único parafuso, consertou o computador com sucesso. O dono, encantado, perguntou qual era o preço do serviço. O técnico deu seu preço: R$ 1.000. O dono, agora espantando, discutiu com o técnico: como assim R$ 1.000 só para apertar um parafuso. O técnico, certamente, quis esganar o cliente, mas foi mais sábio: simplesmente explicou que "não era apenas apertar um parafuso, era saber qual parafuso apertar. Isso se chama conhecimento". 

Para mim, essa situação acontece todos os dias no meio da tradução, no qual a gente se encanta, espanta ou esgana. Um exemplo recente aconteceu há alguns meses, quando me ligaram do meu antigo trabalho perguntando se eu conhecia tradutor da língua indonesa. Para isso, a pessoa, além de saber indonesa, tinha que saber português, claro. Por ser um idioma incomum, minha primeira resposta foi dizer que não, mas depois lembrei que conheço uma indonesa morando no Brasil, Brasília, e a indiquei - se ela mesma já não fizesse esse serviço, como é comum no nosso meio, saberia dizer quem faria e recomendei ainda que também contatassem a embaixada. No fim das contas entraram em contato com a embaixada, onde foi indicado um tradutor.


Algum tempo depois, meus colegas do setor financeiro desse local onde trabalhava comentaram como acharam caro o preço do tradutor, "que tinha ficado uma fortuna, mas como era urgente, acabaram contratando-o". Eu tive que explicar que, ora, em primeiro lugar, não haviam encontrado mais ninguém e dificilmente encontrariam, e por isso o tradutor dava o preço que achava que tinha que dar. É como o técnico do computador: apenas ele tinha o conhecimento para resolver aquele problema.

Os tradutores que têm paixão pelo que faz geralmente se encantam com a tarefa de traduzir, buscar termos técnicos aparentemente sem equivalentes, encontrar a melhor maneira de passar o sentido e o sentimento de um poema causado em um povo para outro...Tradutores comprometidos também tendem a se preocupar não só com o público de destino desse ou daquele texto, mas também com seu cliente, pois quer mostrar um trabalho eficiente, correto e apurado. 

Não se trata só da arte de traduzir - trata-se de investir financeiramente em cursos de aperfeiçoamento, na aquisição de ferramentas de tradução e em aprender a usá-las, em aparato tecnológico de ponta como computador de mesa, laptop, impressora, serviço de internet rápida, escaneador de imagem para aqueles clientes que não possuem o documento na forma digital, enfim...o tradutor, como qualquer outro profissional, precisa se equipar e profissionalizar constantemente para oferecer serviço de qualidade. 

Na ponta do lápis, é claro que isso tem um custo e é em cima desse custo que aqueles que realmente vivem de tradução calculam seu valor. O valor do seu trabalho, que inclui seu valor como tradutor. E aí passa o orçamento para o cliente, o qual, se ignorar todos esses esforços pré-tradutórios, se espanta. É neste momento que a gente sente vontade de esganar. O cliente quer discutir preço, quer pechinchar, quer desconto - é o mesmo tipo que quer pechinchar banana na feira, tipo esse que também ignora o trabalho que é plantar, cuidar, colher, armazenar, limpar e transportar a banana para, só então, ser vendida. 

O fato é que se o cliente acha que traduzir é apenas "saber inglês" assim como vender bananas é só "vender bananas", ou seja, que não há nenhum processo por trás daquilo - um processo contínuo, pois computador quebra, tecnologia avança, termos ficam obsoletos - não há como discutir, ele vai pechinchar e você, como tradutor, vai ter que saber tomar uma atitude baseada no valor que acha que tem.

2 comentários

Jé Beleza disse...

Muito bom o texto! Exemplificou bem o velho problema da falta de valorização do tradutor... a tradução deve ser tratada no mercado como qualquer outro serviço! Cabe a nós tbm mudar isso.

Janaina de Aquino disse...

Pois é, Jéssica, minha meta ultimamente tem sido mostrar que tradução é uma profissão como qualquer outra. Na medida em que as pessoas vão dando conta disso - e muitas delas começam a nos olhar espantados - começam a respeitar mais.