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Matemática da tradução: Como cobrar por um serviço de tradução - Parte 1

Muitos colegas já me perguntaram, “como faço para cobrar por um serviço de tradução?”. Bom, a primeira coisa que penso em responder é “isso vai da idiossincrasia de cada um”, mas acabo falando sobre laudas, caracteres, número de palavras e agora, também, sobre taxa de expansão de palavras. No final, cada um escolhe a forma que achar melhor para si.

Mas, antes de falar sobre a parte técnica, que carinhosamente chamo de "matemática da tradução", considero interessante abordar breve e abertamente sobre a complicada relação no meio da tradução entre veteranos e novatos. Para ilustrar, tomemos o exemplo de calouros e veteranos presente nas universidades brasileiras.

Falarei da minha própria experiência durante o cursinho pré-vestibular, cujos professores eram alunos da universidade. Ali, descobri que odiava cursinhos, mas que odiava mais ainda aqueles professores que diziam estar há cinco anos na universidade e não conseguiam se formar por essa ou aquela razão. Quando percebiam que estavam prestes a ser jubilados (desligados da universidade) por extrapolarem tempo de curso, que é bem generoso, faziam trancamento ou recorriam a outras formas de permanecer mais alguns anos.

Ora, a universidade de que falo é pública e, na minha opinião, eles estavam segurando vaga de outras pessoas mais interessadas. Com muita raiva disso e como se não bastasse, quando passei no vestibular, deparei-me no CA ou Centro Acadêmico, com esses nobres colegas que se autointitulavam veteranos e queriam me dar o codinome de caloura. Caloura é a mãe, eu dizia, porque sabia muito bem que eles eram calouros de outros que eram calouros de outros e assim sucessivamente, pois, como se não bastasse essa palhaçada de ser calouro, aquele recém-chegado, no primeiríssimo semestre, ainda havia o calouro tipo B, aquele de segundo semestre, que se achava veterano do calouro calouro, se é que você me entende. O que realmente me aborrecia era perceber que aqueles ditos calouros, de 5, 6, 7 anos de casa, eram, na verdade uns atrasados. Suas vidas eram jogar truco, participar das festas ou movimentos estudantis da universidade e, claro, chamar os outros de calouro. Enquanto isso, não perbiam que seus calouros já tinham formado e conseguido ótimos empregos. Já tinham se livrado do universo e da mentalidade universitária que, convenhamos, depois de um tempo só tende a atrofiar.

Quando volto na universidade e encontro essas mesmas pessoas pelos corredos, vivendo exatamente da mesma forma como há 5 anos atrás (até onde posso contar, porque com certeza é muito mais), tenho certeza que ainda olham pra mim e pensam: lá vai a caloura. Essas pessoas não acham que evoluí, que jamais sairei da condição de caloura. Ledo engano. E esse pensamento associado aos novatos pode ser encontrado nos diversos segmentos da sociedade. Trata-se de uma prepotência daqueles que estavam ali há mais tempo que não sei explicar. E o pior é que quando o novato se torna "veterano", passa a tratar o próximo novato com o mesmo desdém, o mesmo ar de quem sabe mais. O que é discutível é a subestimação da sabedoria ou do poder de aprendizagem e evolução dos mais novos, dos novatos.

Da mesma forma, para falar sobre como cobrar por um serviço de tradução, não podemos deixar de falar dos novatos, eles que são, muitas vezes, massacrados, pelos ditos veteranos da tradução. Trata-se do fato que constantemente se discute que um novato não deve cobrar o mesmo que um profissional que trabalha há mais tempo com o ofício. O interessante é que não ouço esse tipo de discussão entre médicos, advogados,  professores ou dentistas recém-chegados no mercado de trabalho. Pode até existir, mas desconheço. Talvez, o cerne da questão seja do tempo de experiência mesmo, pois novatos estão muito mais propensos a errar. E é claro que novatos erram. Eu sou uma novata e erro demais.

O problema é que raros são os veteranos que se propõem a ajudar. Em um grupo de tradução que sigo, por exemplo, quando alguém pergunta sobre os valores praticados para essa ou aquela atividade, poucos respondem e, se respondem, os outros entram na conversa para reclamar dos valores apresentados. Então é assim: não ajudam e ainda atrapalham. O pobre usuário que pediu ajuda fica ainda mais confuso! Note-se que no grupo, não é permitido falar sobre temas políticos, religiosos e afins pois podem acarretar discussões desnecessárias. No entanto, percebo que foi instaurado, implicitamente, a proibição de se falar sobre valores praticados.

Vamos a outro exemplo. Recentemente, pediram-me no meu antigo emprego para indicar algum tradutor nativo do inglês (o que também é discutível). Sugeri um dos maiores professores do curso de tradução. Como de praxe, pediram orçamento para ele e fiquei de fora da história. Depois de algum tempo, ele veio conversar comigo, perguntar se tinham achado o orçamento alto demais. Eu disse que não sabia, pois depois de fazer o contato, ficou por conta do pessoal que solicitou, mas que de qualquer maneira ia sondar. No meio da conversa, ele sugeriu que vinha percebendo que há muitos novatos por aí, cobrando muito pouco e, dessa forma, não podemos mais cobrar da forma como cobrávamos porque os clientes acham caro demais. Concordei plenamente. Mas acho que é preciso fazer uma ressalva: o problema não é o fato de serem novatos, mas de cobrarem pouco. É por isso que muitos são massacrados.

E quem são esses novatos? São apenas aquelas pessoas que recém-formaram do curso de tradução ou se apaixonaram pelo ofício, fizeram cursos de especialização e não sabem por onde começar e por isso cobram qualquer valor apenas para ganhar o serviço? Sim, não vou mentir.

Mas acho que o que realmente põe os preços do serviço de tradução lá embaixo são aqueles casos horripilantes que depois de voltarem da Disney, onde traduziram algumas placas ou interpretaram uma ou duas falas do Mickey para aquela tia que só fala português, resolvem fazer tradução porque acham que estão arrasando no inglês o bastante para se sustentarem um ou dois meses, junto com a mesada dos pais, com esse “bico”. Note que problema não é alguém descobrir que gosta de traduzir depois de voltar da Disney ou mesmo que poderia ganhar uma grana com isso em pouco tempo (embora também logo vá descobrir que, às [muitas] vezes, levará muito tempo para ganhar essa grana até se firmar na área). Chama-se atenção para o fato de que 1) a tradução não é um bico; muitos dependem dela para realmente se sustentarem, e 2) se você é um desses, seria legal da sua parte se não cobrasse apenas o suficiente para pagar a rodada da noite e, caso cobre um valor razoável, não se deslumbrasse com o “dinheiro fácil” que ganhar porque tudo que vem fácil, mas fácil ainda se vai. Por isso, leve a tradução a sério – ela merece e, nós, colegas de profissão, agradecemos que a respeite.

Agora, por que alguns novatos cobram pouco? Simplesmente porque querem desvalorizar a profissão de tradução, já que, para alguns, é apenas um bico? Não posso afirmar nada nem contra ou a favor a esse respeito, mas vou dar um palpite: é falta de informação. E como disse, alguns veteranos não gostam de dar essa informação, quer seja por medo da concorrência, quer seja por pura truculência. Ridículo, meus caros leitores. Se não fosse por alguns casos que li em certos blogues famosos por aí, diria que era a primeira opção. E mais: que é aquele veterano que não está se aperfeiçoando mas também não quer largar o osso. Como não é o caso, é muitissimamente lamentável. E isso causa terror. Por medo de perguntar, alguns novatos apenas cobram aquele valor que acham que tem enquanto outros seguem desinformados, cobrando pouco.

Assim, muitos colegas chegam para mim, receosos, e perguntam como cobrar por um serviço de tradução. Na faculdade, o máximo que ouvíamos, mediante essa pergunta, era o valor fechado de uma lauda. Mas nós, como estudantes, não sabíamos como nos basear em cima daquele valor: cobrar o mesmo, mais ou menos?

A minha sugestão é, uma vez que se tem uma referência, que sugerirei na Parte 2 (não perca, assine nosso feed para recebê-la assim que for postada), não cobrar bem abaixo do que um profissional cobraria porque pode desvalorizar o trabalho de ambos. Além disso, se você der um valor muito baixo logo na primeira vez, 1) o cliente vai sempre achar que você deve cobrar pouco, ou 2) que não deve pagar o preço alto e justo cobrado por alguém que é profissional na área.

8 comentários

Cecília Alves disse...

Olá Janaina! Gostei muito da sua matéria sobre cobranças de serviços de tradução, um assunto sempre muito controvertido no nosso metiê. Gostei dele principalmente porque também sou "caloura" na área (aliás, essa rixinha entre "veteranos" e "calouros", seja na universidade ou fora dela, é totalmente ridícula) e também percebo a postura de indiferença e crítica que muitos tradutores mais experientes possuem diante da dúvidas de novatos em fóruns de discussão (dúvidas essas que eles também um dia já tiveram!).
No meu caso, eu realmente cobro valores considerados baixos em relação ao que cobram outros tradutores (apesar de toda a minha formação e levando em conta minha experiência de somente um ano e meio como tradutora, e menos como freelancer); no entanto, no momento estou trabalhando somente para duas agências na Argentina (sendo uma por indicação) que me ofereceram esses tais valores (satisfatórios dentro do meu orçamento neste momento), com as quais pretendo construir laços mais duradouros para o futuro. Fora isso, faço alguns trabalhos para uma editora, que também me cobra um valor fixo (que também não são altos, como sabemos...).
Não concordo totalmente com o fato de que se um tradutor profissional está cobrando pouco pelos seus serviços está desvalorizando a si mesmo e aos demais colegas de profissão, porque há que saber exatamente quais são suas razões para cobrar menos que os outros. Tampouco afirmo que, de maneira geral, a razão seja falta de informação dos tradutores novatos quanto aos valores que deveriam cobrar, visto que esse é um dos assuntos que mais figuram nos tantos blogs e listas de discussão para tradutores (onde sempre se encontram respostas sobre o tema). Acho que duas maiores razões seriam a vontade de não disperdiçar uma oportunidade de trabalho que realmente valha a pena (com uma visão de longo prazo) e o fato de os valores cobrados serem suficientes na relação rendimento x despesa total do profissional.
Grande abraço e aguardo a continuação da matéria!
Cecília Alves.

Janaina de Aquino disse...

i Cecilia! Dentro das suas atuais condições, i.e. trabalho para editora e/ou agência, considero que o caso é outro. Por exemplo, mais uma vez tendo como referência o fórum, sempre que alguém recebe uma proposta de serviço por uma editora recorre ao fórum para perguntar se alguém já trabalhou para aquela editora. O que a pessoa quer saber na verdade é 1) se não levará calote e 2) se a editora paga mal. Nunca trabalhei para editora, mas sei que elas trabalham com preços fixos, os preços que elas "podem" ou ainda "querem" oferecer. Recentemente, uma colega me chamou para dividir um trabalho de editora com ela, mas não pude porque estava ocupada com outro. Ela comentou que tentou outras colegas, que recusaram alegando achar o valor muito baixo para uma tarefa muito difícil. Acho que toparia, pela experiência e que isso não significaria, necessariamente, uma contribuição para essa máquina dita exploratória das editoras. Na verdade, acho isso completamente normal, visto que precisam tirar sua porcentagem e que são uma empresa como qualquer outra. O que tenho percebido nas reclamações do fórum, no entanto, é que geralmente editoras pagam muito pouco - para seus padrões - e apenas os novatos, e aí vem eles, "aceitam porque realmente aceitam qualquer coisa para começar a trabalhar, não perder a oportunidade", é o que dizem.

Janaina de Aquino disse...

O que eu dizia sobre um profissional cobrar pouco é que, sim, você vai ouvir (se ainda não ouviu, prepare-se porque sua vez vai chegar =] - tem um exemplo na outra postagem da matemática) que tem gente cobrando mais barato. É natural. Eu mesma adquiri o hábito de fazer pesquisa de preços antes de comprar um determinado produto, por que não poderiam nossos clientes? O problema é as coisas que você tem que ouvir, do tipo "por esse preço, faço eu", como Danilo Nogueira relata já ter ouvido. Também já me ocorreu de cliente falar: "mas não é só traduzir?". Uma vez, no meu primeiro estágio, após traduzir ou revisar, não me lembro, na camaradagem um abstract, o colega falou: põe na continha que depois te pago. Como já tinha feito outro serviço camarada, isto é, de graça, dessa vez disse: "ah, sim, claro, aceito um chocolate Hershey's". E ele disse, "mas o que é isso? ". Expliquei que era um chocolate importado, muito bom e tal, e ele achou sabe o quê? Um absurdo. Sabe quanto custa o chocolate? R$2,99. Sabe quando ele me "pagou"? Nunca. Sabe quanto ele ganha? Cerca de R$10 mil. Então assim, eu comecei fazendo serviço de graça, depois tentei aumentar para meros R$2,99 e no final não fui recompensada por isso. As pessoas acham que é só traduzir (o que é "só traduzir", não me pergunte) e não valorizam por isso. Claro que quando você fala que é tradutor, eles acham um luxo, mas quando precisam do seu serviço e você diz seu preço, eles acham que você está se achando demais. Quanto à informação, digo isso, porque os colegas que me perguntaram até agora iriam cobrar valores muito baixo antes de aprenderem a tal matemática. Essa semana mesmo uma colega enviou sms perguntando como fazer para cobrar por um serviço.

Janaina de Aquino disse...

oi aí que tirei essa postagem de vez do rascunho. Pensei, o problema é sério, porque essa pergunta é constante. Então respondi que minha lauda era tantos caracteres e meu preço era tal. Depois, à noite, ela me ligou, não tinha entendido os caracteres, e cobrou lauda como se fosse 1 página. No final, seu cálculo deu R$ 140,00. Como sabia para qual serviço ela precisava calcular aquilo porque eu mesma a tinha indicado) disse que meu cálculo tinha dado R$ 920,00 para o inglês (que recusaram. Perguntei se a moça sabia a razão para a recusa, já que não tinha ficado caro, ela disse que provavelmente a outra pessoa havia cobrado alguns centavos mais baratos, mas eu desconfia que a verdadeira razão era uma peixada pré-programada) portanto ela deveria recalcular assim-assim-assim. Da mesma forma, quando passei um trabalho para outro colega há cerca de um mês, ele ia enveredando-se pelo mesmo caminho: cobrar um valor baixo por não calcular adequadamente e, assim, apenas chutar um valor. Eu disse, olha, baseado nisso-nisso-e-nisso, eu cobraria assim. A diferença era de quase vinte reais. Enfim, talvez não fui de todo clara. Mas a diferença maior, era quando ele fosse cobrar da próxima vez: "ah, mas da outra vez você me cobrou R$30,00 e agora quer R$50,00?". Talvez deveria ter explicitado que a falta de informação seja a falta de uma referência. O novato deve pensar: "mas em quê devo me basear?". E aí isso é tema da próxima postagem. Muito obrigada pelo comentário. É totalmente válido.

Janaina de Aquino disse...

É certo também que encontramos esse assunto em outros blogues, mas que o tom repreensivo contra os novatos permanece, ah, isso permanece! Esse é um trecho de uma mensagem de um participante do fórum, sobre outro assunto, no caso: "Respondendo a minha própria mensagem só pra esclarecer algumas coisas, antes que já venham com pedras na mão (como novato, já vi que algumas pessoas pegam pesado quando alguém fala besteira, o que intimida a participação de alguns como eu, acredito)." Forte abraço e até a próxima"

Cecília Alves disse...

Realmente, trabalhar de graça pode significar engolir muito sapo, a menos que seja um trabalho voluntário que nos possa agregar experiências muito valiosas (não que qualquer trabalho de graça não traga boas experiências também). Eu, particularmente, não tenho experiência com trabalhos voluntários, não pelo fato de só querer visar o lucro (aí se encaixa um pouco a noção de desvalorização profissional...), mas pela minha simples realidade econômica de precisar garantir o meu ganha-pão (claro, como qualquer um mortal profissional, mas no meu caso, estou naquele momento de transição entre a vida em família e a independente, que não deve ser no Brasil). Porém, como afirmei antes, o que tiro com os meus trabalhos atuais, mesmo que não seja muito aos olhos dos demais colegas (e mais ainda quando a gente pensa nos prazos de pagamento das agências, geralmente de, no mínimo, 60 dias), já estão contribuindo bastante para o meu ganha-pão, tendo em vista minha atual situação de "novata".
Quanto aos comentários tidos como "tolos, idiotas" que muitos novatos postam em fóruns, bem, eu mesma já senti receio de fazer certas perguntas "bobas" para evitar respostas como "mas isso já foi muito discutido aqui", "há lugares mais adequados para se fazer esse tipo de pergunta(tola)", quando não é o caso de não ver nenhuma pergunta minha respondida. Mas, aí a gente lê umas bobagens que muito "novato" escreve por aí e começa a pensar "putz, será que esse cara não se manca?". O ser humano é preconceituoso por natureza, não tem jeito, acaba se revelando em algum momento...
E essas dúvidas quanto a no quê se basear para cobrar por páginas ou palavras a editoras e agências são clássicas e sempre colocam uma pulga atrás da orelha de quem está começando na carreira. Minha primeira consulta (óbvia, por sinal) foi ao site do Sintra, mas após um "quase" infarto fulminante, tirei por (muito) menos e cheguei a um valor mais razoável para cobrar pelos meus serviços. Para isso também me baseei em consultas a listas de discussão e ao ProZ.com. Aliás, este é outro meio para tradutores bastante controvertido pelo seu caráter um tanto elitizado...
Pero, bueno, vou aguardar a sua próxima postagem para fazer mais comentários sobre as matemáticas...Abraços!

Anônimo disse...

Sou tradutor freela Português><Espanhol e cobro U$D = 0,012/Palavra tá bom?

Anônimo disse...

enos793@gmail.com