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Editado por Janaina de Aquino


O texto abaixo foi extraído do blog Tradutória, agora presente em nossa seção de LINKS, de Jim Oliver, ex-aluno de Letras Tradução da Universidade de Brasília. A postagem antecipada desse texto, isto é, à frente daqueles que tinham sido enviados anteriormente por outros colaborados, é muito simples: considero aqui que ele servirá de uma ponte importante para todos os textos que serão expostos daqui em diante. Por isso, espero que Luiz Andrade e Jéssica Beleza perdôe essa decisão; e aproveito para lembrar aos leitores que há mais coisas a caminho. Por favor, leiam com atenção a trajetória de Jim Oliver. Sua experiência como estudante e tradutor é essencial para todos nós. É um belo exemplo da situação atual da tradução no Brasil e na Universidade de Brasília. O autor narra como foi sua vida acadêmica e o início da sua vida profissional como tradutor. Aspire bastante do que ele tem a nos passa e aproveite para inspirar confiança no que você tem a aprender.




Como Estou Apredendo A Ser Tradutor
Uma retrospectiva de minha trajetória na tradução
por Jim Oliver



*"Conhecimento", em inglês

Traduzir sempre fez parte de minha vida. Quando adolescente, traduzia letras de música das minhas bandas favoritas (a maioria do Reino Unido) e entrevistas de músicos e personalidades de países de língua inglesa. Biografias, história, música, era o que me interessava. Gostava de ouvir a BBC de Londres em ondas curtas e ler livros e revistas em inglês. Aí, acredito eu, já estava plantada em mim a semente do tradutor, mesmo sem saber do que se tratava. Nessa época eu já estudava inglês por conta própria, como autodidata que sempre fui. Mais tarde, passei para as escolas de inglês, mas nunca me contentava - o que os professores ensinavam não passavam das mesmas lições e repetições diárias -, eu queria algo mais. Finalmente, encontrei uma professora particular que me fez, de fato, entrar em contato mais profundo com a língua que tanto me cativava desde tão cedo. Aprendi a ouvir, a ler e a escrever melhor a língua estrangeira. À época, eu tinha uma banda de syhntpop - estilo musical que surgiu da fusão da new wave e música eletrônica dos anos 80 -, e meu progresso no inglês foi primordial para começar a fazer letras mais elaboradas. Passado alguns anos de aprendizagem e aperfeiçoamento da língua, e um tempo de indecisão quanto ao que fazer para o vestibular, optei por fazer o curso de Relações Internacionais na universidade de Brasília. Não passei, e fiquei muito frustrado. Parecia que nenhum curso me empolgava, nada me chamava muita atenção. Um dia, folheando o guia do vestibular da UNB com os cursos oferecidos pela universidade, vi o curso de Letras habilitação em Tradução. Aquilo me chamou a atenção e quis saber mais, que curso era aquele, como era ser um tradutor, se eu podia ganhar bem atuando como um; afinal, eu "sabia" o que era traduzir e não sabia nada sobre o ofício de tradutor. Estava decidido, eu iria prestar o vestibular para "Tradução". Passei com louvor e lá fui eu "aprender" a traduzir.
Foram quatro anos e meio de curso. Sempre fui muito curioso para aprender as coisas, e, uma vez na faculdade, isso não seria diferente. Ao longo do curso eu observava que ninguém falava no mercado de tradução, nas ferramentas, na tecnologia empregada para nos auxiliar em nossa tarefa, pois logo fiquei sabendo das memórias de tradução. O enfoque, no curso de tradução, era para o exercício de tradução, para as habilidades do tradutor e as implicações lingüísticas das línguas envolvidas no processo tradutório. Eu achava interessante, aprendi muito, mas eu sentia que faltava mais - de novo a sensação de "faltar algo" -, eu buscava algo mais concreto, queria saber do mercado de tradução, entrar em contato com tradutores reais, com textos reais, tecnologias para os tradutores, etc. Sempre fui muito interessado em computadores, internet, softwares e tecnologia da informação. Passei horas pesquisando sobre tradução e o mercado na internet. Nessa época da faculdade, eu entrei em listas de discussão de tradutores na internet (tradutores.com, trad-port, Litterati, pra citar algumas), abri este blog , o Tradutória, no intuito de escrever sobre a minha experiência e conhecimentos adquiridos com as minhas pesquisas e estudos sobre tradução, ainda como um estudante de tradução e posteriormente como tradutor formado. Através de uma professora de tradução, consegui fazer o estágio do curso no ministério da Ciência e Tecnologia, em Brasília, no ano de 2003. Era um projeto de cinqüenta laudas, mas no final acabei fazendo cem. Eu fazia a tradução em casa mesmo, no meu computador, e teria que entregar no prazo de três meses ou menos, se não me engano. O texto era sobre os processos industrias que provocavam o aumento no buraco da camada de ozônio, o chamado efeito estufa. Abordava assuntos ligados à química, passando por biologia, física, e questões ambientais. Foi neste projeto que usei pela primeira vez as tão comentadas TM, de translation memory, memória de tradução em português. Desde então, vejo o quão importante são as ferramentas de auxílio à tradução (CAT), especialmente, para os textos técnicos, onde as repetições são mais freqüentes e as traduções mais padronizadas. Os anos na faculdade foram bons para aprender que se você fica bitolado na vida acadêmica, e afirmo isso com relação ao curso de tradução, ou você se torna um pseudo-intelectual discutindo teorias a vida toda ou você sai para o mercado de trabalho apenas com uma parca noção do que é realmente ser um tradutor dentro de um mundo mais globalizado e competitivo. Vi muitos colegas de curso se formando e indo trabalharem em outras áreas, às vezes, áreas muito diferentes da tradução. Muitos ocupam cargos públicos em diversas autarquias e órgãos do governo. Alguns chegam a fazer outro curso universitário, quando não vêem muitas oportunidades dentro da área. Isso acontece, a meu ver, devido à má preparação que o aluno de tradução recebe na sala de aula, pois ele não sai de lá pronto para o mercado de trabalho, pronto para competir; sai de lá sem saber por onde começar, não sabe nada sobre o mercado em que foi jogado, não conhece a profissão de fato, como ela é na realidade. Não é culpa dos professores, pois estes se dedicam com afinco - alguns deles sim, outros não - para passar todo o conhecimento de uma vida toda em apenas algumas horas de aula em quatro anos. Por isso, já consciente dessa limitação, eu sempre fui atrás, nunca fiquei sentado esperando que o mundo viesse a mim e me explicasse como tudo funciona. Estava fechado naquela vida acadêmica e mal esperava para sair de lá e buscar um lugar neste mercado competitivo, pondo em prática tudo o que eu sabia e aprendendo muito mais. Foi quando o último ano da faculdade chegou e teria que fazer o projeto final do curso de tradução. Era aconselhado que fizéssemos o trabalho em dupla, então, chamei um grande amigo da faculdade. Desde o princípio, quis fazer a tradução de algum texto sobre tecnologia. Engraçado como certos textos que vêm para a gente começam a ter relação com o que você pensa, tem a ver com as suas preferências e com o mundo ao seu redor. Sempre fui ligado em tecnologia, em textos técnico-científicos. Eu comuniquei a meu parceiro sobre essa minha predileção por textos técnicos e científicos, de preferência na área de tecnologia do futuro. Ele então me disse que a mãe dele trabalhava para a GEEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) - instituição dedicada à promoção e realização de pesquisas e estudos prospectivos de alto nível na área de ciência e tecnologia - e que poderíamos escolher um texto do website da instituição. Pesquisei algum tempo e achei o que me pareceu o mais interessante, uma publicação da Consumer Eletronics Association intitulado Five Technologies to Watch 2005. Este tratava de um relatório de analistas do mercado de tecnologia que apontavam as cinco maiores tendências de tecnologia de ponta que se destacariam e que mudariam a vida dos consumidores no planeta. Foram cerca de 20 dias com a tradução de 26.000 palavras, contando com a teoria, o relatório da tradução, anexos e glossário. Apresentamos a tradução para uma banca de três professores do departamento de línguas estrangeiras e tradução. Fomos muito elogiados pelo trabalho e recebemos a menção máxima SS (Superior). Foi uma oportunidade muito enriquecedora, pude aprender muito mais sobre o TRADOS, a ferramenta CAT que utilizava na ocasião, além de ter ganho em experiência com o processo da tradução - sem contar também que fiquei muito mais confiante por minha tradução ter sido tão bem recebida e elogiada pelos professores, também tradutores. Li certa vez, não sei bem aonde, mas tratava-se de um professor de uma universidade inglesa, que afirmava que um tradutor leva, em média, sete anos para se formar. Quatro anos de faculdade e mais três anos de "estágio" até você ser um tradutor gabaritado. Não sei bem até onde isso é verdade; penso que o tradutor leva a vida inteira para saber alguma coisa, que sempre estamos aprendendo, e temos que nos reciclar sempre, indo sempre atrás da informação, do conhecimento e da excelência em nossos serviços. Pois bem, com o diploma na mão, e o mundo todo pra conquistar, a questão era por onde iria começar. Comecei a mandar currículos para as agências de tradução e colocar anúncios no jornal oferecendo os meus serviços. A primeira dificuldade que se tem, quando você não tem ninguém que lhe indique para um emprego ou serviço, é conseguir o primeiro trabalho ou emprego. Aí entra a tal da experiência. Mas como eu poderia competir, recém saído da faculdade, apenas com um título de graduação para "contar vantagem". Quando eu via o currículo de outros tradutores com muitos anos de experiência e traduções feitas em diversas agências e empresas, eu desanimava. Voltei para Goiânia, minha cidade natal. Fiquei enviando currículos e fazendo testes durante uns cinco meses, até que uma amiga "virtual", também tradutora, indicou-me um site americano, onde tradutores independentes faziam traduções on-line. Só era preciso que eu fizesse um teste e fosse aprovado, claro. O teste era difícil, mas fiz com dedicação e, uma semana depois, recebi a resposta de que fora aprovado. Começava um novo ciclo, eu faria as traduções e receberia meus primeiros pagamentos por isso. Estava finalmente exercendo a minha profissão. Eu traduzia listas de termos, das mais diversas áreas, incluindo TI, geologia, física nuclear, biologia, geografia, botânica, entre outros. Era empolgante e desafiador traduzir várias palavras e termos de diversas áreas, sem muito contexto. Li muito sobre vários assuntos a fim de conhecer mais a respeito do que estava traduzindo. No mesmo período, fiz mais uns trabalhos para uma agência do Rio de Janeiro. Traduzi um manual de uma copiadora digital. A partir dos pagamentos que recebia, pude me mudar para Brasília. Nesta cidade ficaria mais perto das melhores oportunidades de trabalho. Comprei um computador de última geração, instalei-o na minha kit e comecei a trabalhar. Logo depois, recebi uma proposta de trabalho de uma agência de tradução do Rio Grande do Sul para traduzir manuais de máquinas e motores de máquinas agrícolas. Sempre me enviavam trabalho, tinha um fluxo constante de tradução, e começava a incrementar o meu currículo, com novas experiências, novos desafios. Trabalhei com dois programas: Trados e Transit. Neste período, estudei bastante essas duas ferramentas. Com o Transit, traduzi apenas um projeto, e aprendi muito pouco sobre ele, o bastante para terminar o trabalho. Utilizei o Trados nos outros projetos, acabei ficando com um excelente conhecimento desse CAT. Li o manual do wordfast, preparado pelo tradutor Danilo Nogueira; achei ótimo e bem didático, introdutório, mas é uma verdadeira "mão na roda" pra quem não sabe nem por onde começar. E aprendendo uma CAT fica fácil saber os outros. A tecnologia dos programas é muito parecida. Com a ajuda da internet e todos os meios de pesquisa que dispunha, fui aprimorando as minhas técnicas de tradução, descobrindo o meu "mecanismo" de tradução, procurando sempre incorporar conhecimentos a partir dos relatórios e glossários que me enviavam logo após cada projeto realizado.Algum tempo depois, através de um site de tradutores, uma agência do Reino Unido me contatou para fazer a tradução de folhetos promocionais de aparelhos médicos para uma empresa britânica. Foi aí que me descobri com textos médicos. Gostei bastante do material que estava traduzindo e dos resultados obtidos. Após uma primeira etapa do projeto, eles me pediram mais traduções. Foi o trabalho que mais gostei, senti muita afinidade com essa área. Hoje, o tradutor mora na internet. Não vejo melhor modo de definir como vivemos e nem mesmo consigo imaginar como era a vida de um tradutor fora da internet. Não afirmo isso só pela questão da pesquisa e dos recursos que hoje temos disponíveis na rede, como dicionários, sites de referência e listas de discussão, mas pela velocidade da comunicação com clientes, agências e outros tradutores. Você pode negociar com um cliente do outro lado mundo e receber o seu projeto em questão de segundos, através do seu e-mail, e dar a resposta com similar rapidez. Podemos expor o nosso currículo on-line, contactar clientes, fazer cursos, consultar dicionários on-line e especialistas em vários assuntos, além de outras coisas. Se São Jerônimo pudesse ver toda essa revolução! Hoje, mais experiente na profissão e atuante no mercado, percebo que o que interessa para nós, ou melhor, para o cliente, é a eficiência do seu serviço. Os clientes e agências que empregam tradutores querem eficiência aliada à rapidez e qualidade na produção, dentro dos prazos estipulados. A tradução é sempre para ontem. É nessa direção que estou focado. Se não entregar a tradução no prazo, não atender às especificações do projeto, não produzir dentro da margem de qualidade esperada e, ao mesmo tempo, cumprindo com os prazos estipulados, o mercado não aceitará esse tradutor. O mais difícil é se manter no mercado em pé de igualdade, trabalhando os requisitos acima mencionados. Estou mais confiante do que nunca e não me imagino fazendo outra coisa. Espero alcançar degraus mais altos na profissão, novos desafios, novos projetos, trabalhando para reconstruir as palavras sempre mais uma vez.





2 comentários

Luiz Felipe disse...

É muito bom ouvir um relato de alguem que assim como nós, entrou meio sem saber em que se entrava e realizou ( e ainda continua) uma carreira brilhante.
Sempre acreditei que não falta oportunidades para o bom profissional, sempre disposto a aprender e crescer. Que nós tambem tenhamos toda a garra e a força de vontade para corrermos atrás de nossos sonhos !

Raquel disse...

Acho que sou uma pseudo-intelectual que quer passar a vida inteira discutindo teorias, me sinto assim no presente momento! Talvez por que sinta a mesma falta que o autor do texto sentia nos tempos de universidade. Falta de preparação para o mercado, de noção do que é e como é o mercado de tradução, ferramentas, enfim, todos estes itens que nosso colega mencionou! Mas, por muitas vezes falta interesse da parte dos estudantes também que acabam optando por outros cursos, outros caminhos e outras oportunidades por falta de informação e de instrução do mundo que lhes aguarda fora da vida academica, mundo do qual a grande maioria tem medo! O importante é a vontade de ser tradutor, é a vontade de procurar textos e materiais que lhe interessam e, a partir daí, estar aberto para novas oportunidades e experiências!